de quem é o olhar ?


Que espreita por meus olhos?

Quando penso que vejo,

Quem continua vendo 

Enquanto estou pensando?

Por que caminhos seguem,

Não os meus tristes passos,

Mas a realidade 

De eu ter passos comigo?

Às vezes, na penumbra

Do meu quarto, quando eu 

Por mim próprio mesmo

Em alma mal existo, 

Toma um outro sentido

Em mim o Universo

É uma nódoa esbatida

De eu ser consciente sobre

Minha idéia das coisas.

Se acenderem as velas

E não houver apenas

A vaga luz de fora -

Não sei que candeeiro

Aceso onde na rua -

Terei foscos desejos

De nunca haver mais nada

No Universo e na Vida

De que o obscuro momento

Que é minha vida agora!

Um momento afluente

Dum rio sempre a ir

Esquecer-se de ser,

Espaço misterioso

Entre espaços desertos 

Cujo sentido é nulo

E sem ser nada a nada.

E assim a hora passa

Metafisicamente. 




Fernando Pessoa, 
in "Cancioneiro"

foto de Lívia Campos
foto de Lívia Campos

nunca houve a intenção...

Celso Blues Boy - Ipanema Jazz Festival RJ
Celso Blues Boy - Ipanema Jazz Festival RJ

de se levar tão sério...

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